domingo,30 junho , 2024
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As lições de negócios e carreira da obra de Machado de Assis, segundo 5 executivos

por Tais Laporta
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A polêmica que envolve o ciúme latente de Bento Santiago em relação a Capitu, protagonistas de “Dom Casmurro” – escrita por Machado de Assis (1839-1908) no fim do século XIX – voltou a provocar debates acalorados nas redes sociais. Agora o palco foi o TikTok, puxado pela influenciadora americana Courtney Henning Novak, que, além de se apaixonar por mais uma obra do autor, tornou-se mais uma apoiadora do “time Capitu”.

Machado de Assis aos 57 anos (Domínio público)

No primeiro semestre, após selecionar obras de autores da América Latina em suas postagens nas redes sociais, Novak alçou à “calçada da fama virtual” o Bruxo do Cosme Velho, alcunha mais famosa de Joaquim Maria Machado de Assis, escritor brasileiro que participou da fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL). A influenciadora enalteceu a excelência literária de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicado em 1881, desencadeando uma onda global de curiosidade pela obra do escritor brasileiro nas redes e nas livrarias, físicas e virtuais.

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No Brasil, as obras de Machado estão no dia a dia de estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Embora presente nas escolas, o autor tem fama de erudito. Essa percepção, muitas vezes, impede alguns leitores de observarem o quanto sua obra é contemporânea e muito próxima do cotidiano, recheada de ironia fina.

Cronista nato, Machado de Assis, que trabalhou como revisor e jornalista, é também poeta. Suas obras têm a crítica social como traço marcante. Essa pitada irônica na contextualização das personagens aproxima o universo de personagens criados pelo escritor ao cotidiano, inclusive no mundo corporativo, mais de um século após sua morte. Não por acaso, o Bruxo do Cosme Velho (a alcunha é uma alusão ao bairro carioca onde morou), é apontado como autor preferido de CEOs e tomadores de decisão nas empresas.

Dilemas de comunicação

Janaína Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), é bom exemplo disso. Entre seus livros prediletos, estão as obras mais famosas de Machado de Assis: “Dom Casmurro” e “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Donas diz que um dos maiores escritores da língua portuguesa pode parecer distante do mundo dos negócios à primeira vista e, especificamente, do setor do alumínio. Mas não é bem assim.

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Janaína Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (Abal). Crédito: Divulgação

“O que me chama mais atenção são os insights sobre a natureza humana, a resiliência, liderança e a complexidade das relações sociais, todos elementos cruciais para o sucesso nos negócios e na indústria”, destaca.

Ela enfatiza que os personagens criados por Machado frequentemente enfrentam adversidades e desafios semelhantes aos da indústria do alumínio em que atua, o que exige resiliência e adaptabilidade. “A trajetória do nosso setor é marcada por altos e baixos, e a recente retomada da autossuficiência da produção do alumínio no Brasil comprova a resiliência e a perseverança do nosso espírito empreendedor, e da capacidade de nos reinventar como indústria”.

‘Memórias Póstumas’: análise da condição humana

Fabrício Macias, Co-Ceo da Macfor, agência de marketing digital full service, diz que “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, um de seus livros preferidos, traz uma análise muito peculiar da condição humana, inclusive muito contemporânea. “Pensando no próprio Brás Cubas, duas coisas vêm à mente: narcisismo e manipulação. São duas lições que valem muito para o ambiente corporativo e, principalmente, para os líderes e gestores de grandes companhias”.

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Fabrício Macias, Co-CEO da Macfor, agência de marketing digital full service. Crédito: Divulgação

Outro livro, entre os prediletos de Macias, é “Dom Casmurro”. Na visão do executivo, a obra expõe os riscos da comunicação deficiente e suas consequências. Em sua interpretação, a leitura ressalta a importância de uma comunicação clara e transparente para evitar mal-entendidos, sobretudo no trabalho remoto.

“Se mandarmos uma mensagem, errada ou incompleta, não importa qual seja o meio, isso gera um efeito cascata super negativo. Por isso, é importante sempre aplicar perguntas após a mensagem: o que você entendeu sobre o que te pedi? Ficou claro? Tem alguma dúvida? Quais seus próximos passos?”, recomenda.

Nuances das interações humanas

Embora os livros sejam a obra de Machado de Assis com maior repercussão, o autor carioca apresenta uma vasta coleção de contos, que espelham traços muito particulares da condição humana. Arnaldo Yegros Jr., consultor jurídico do Bradesco, ressalta a profundidade psicológica e a análise crítica da sociedade presentes em “Um homem célebre”, um dos contos de “Várias Histórias”, obra publicada em 1896.

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O conto reflete o conflito vivenciado por Pestana, que sonhava em ser uma celebridade da música. “A narrativa do personagem, um talentoso compositor de polcas, ensina sobre a frustração das expectativas desalinhadas – mesmo famoso pelas composições, Pestana não se satisfazia com seus resultados. No Bradesco, lido com questões semelhantes com nosso desejo incessante pela inovação e melhoria”, diz Yegros Jr.

Para o consultor, os conflitos vividos por Pestana remetem à importância em apoiar as equipes para que se concentrem na qualidade do trabalho, sem perder o equilíbrio com a satisfação pessoal e profissional. “É preciso evitar as armadilhas de resultados “utópicos” e reconhecimentos inalcançáveis”, ressalta.

Ao abordar questões humanas complexas e universais, como ambição, ética, e relações interpessoais, elementos essenciais na liderança moderna, Machado desvenda as motivações e os comportamentos dos personagens, ressalta Yegros Jr. “Ele me ensina a compreender melhor as nuances das interações humanas no ambiente de trabalho”.

‘O Espelho’: inspiração para tomar decisões

Emilia Cappi, diretora de Novos Negócios, Marketing e Arquitetura de Soluções na Finch, é outra admiradora dos contos do escritor brasileiro. Ela destaca “O espelho”, originalmente publicado no jornal “Gazeta de Notícias” em 8 de setembro de 1882.

“Venho do mundo acadêmico das Letras, do Direito, e adentrei a área de Tecnologia.

Quando falamos em liderança, conhecer profundamente os anseios humanos para formar times de alta performance é uma tarefa desafiadora. Tenho encontrado, nessa bagagem literária, reflexões, compreensões e inspirações para tomada de decisões objetivas”, diz a executiva.
Em “O espelho”, a executiva observa um alerta sobre a Síndrome de Jacobina, nome dado ao protagonista da obra. “O personagem que só se reconhecia em frente ao espelho ao se vestir de alferes, fato que o fez ser reconhecido e valorizado pela comunidade. Veja que interessante, o alferes eliminou o homem. Uma reflexão muito sofisticada sobre identidade, vaidade e orgulho, questões humanas, que podem impedir no mundo profissional, talentos e líderes de criarem ambientes mais colaborativos e inovadores”, ressalta Cappi.

Arnaldo Yegros Jr., consultor jurídico do Bradesco. Crédito: Divulgação

Na análise de Cappi, no ambiente dinâmico e desafiador de uma legaltech, é fundamental fomentar um espaço em que a inovação e a autenticidade sejam valorizadas. “Além de permitir que a equipe explore soluções criativas e autênticas para alcançar nosso propósito: simplificar o mundo jurídico”, diz.

Os contos de Machado de Assis, segundo Cappi, não apenas ilustram desafios humanos universais, mas também oferecem lições profundas sobre liderança, identidade e sucesso no mundo corporativo.

‘O Alienista’: reflexões sobre verdades absolutas

Conto que virou livro, e que também é considerado uma novela por sua estrutura de narrativa, “O Alienista”, publicado em 1882, marcou a vida de Cláudia Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge. Para a executiva, a leitura a faz se questionar quando acha ser a única a ter razão ou estar certa diante de uma questão no dia a dia. É nesses momentos em que ela se lembra das indagações de loucura do Dr. Bacamarte, protagonista da obra.

Cláudia Calais, diretora-executiva da Fundação Bunge. Crédito: Divulgação

“Essas indagações sempre me inquietavam. A visão de loucura que ele propunha no livro estava associada a um contexto. Era o ponto de vista dele e não, necessariamente, dos demais. Ele me fez refletir sobre as verdades absolutas. Elas não existem. E, no final, a grande pergunta que ele fazia aos seus pacientes para constatar suas loucuras:  “Você está ouvindo esse grito?” Apenas ele ouvia, porque o “louco” era ele!”.

Para a executiva, é muito instigante a discussão sobre as verdades absolutas, que, no livro, caracteriza-se pela loucura, ao longo da história, e a tomada de consciente dele sobre sua visão equivocada de mundo, ou sobre a loucura. “E tudo isso se encaixa perfeitamente no mundo de extremos que vivemos. Desde que li esse livro, aos 11 anos, passei a me questionar quando acho que só eu tenho razão ou estou certa”, finaliza.

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